Formas mutáveis
O que fazemos à tarde é ver estampas,
vestindo e desvestindo fugazmente
aqui um rio oculto, ali um monte
com penas de pardais, fontes submersas,
e escarpas monstruosas, atravessadas
por pontes de veludo, verde e rosa,
que deslizam, elas mesmas, sobre os gumes
de espadas perfiladas, simplesmente.
O que fazemos de manhã é quase o mesmo:
é ver navios subindo nas eclusas
que a água enche, no sussurro ténue
de mil medusas abrindo lentamente,
sob a suspeita do corpo estranho e móvel
que as afaga; e o mastro rasga o céu
de nuvens altas.
À noite, o que fazemos é o deserto.
Comparativamente, isto é,
porque há camelos na linha do horizonte
entre colinas redondas como pêssegos,
e beduínos que as mordem, trôpegos
de tanta fome e areia e falta de água.
Passa a língua nos lábios, e na folhagem
docemente marulha o rouxinol.
vestindo e desvestindo fugazmente
aqui um rio oculto, ali um monte
com penas de pardais, fontes submersas,
e escarpas monstruosas, atravessadas
por pontes de veludo, verde e rosa,
que deslizam, elas mesmas, sobre os gumes
de espadas perfiladas, simplesmente.
O que fazemos de manhã é quase o mesmo:
é ver navios subindo nas eclusas
que a água enche, no sussurro ténue
de mil medusas abrindo lentamente,
sob a suspeita do corpo estranho e móvel
que as afaga; e o mastro rasga o céu
de nuvens altas.
À noite, o que fazemos é o deserto.
Comparativamente, isto é,
porque há camelos na linha do horizonte
entre colinas redondas como pêssegos,
e beduínos que as mordem, trôpegos
de tanta fome e areia e falta de água.
Passa a língua nos lábios, e na folhagem
docemente marulha o rouxinol.
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