domingo, janeiro 15, 2006

Outro poema urbano

A maravilhosa vista que se avista da torre
de menagem e que inclui a contagem
de colinas em dias de horizontes azuis
e largos, desapareceu há pouco
sem deixar rasto, embrulhada que foi,
ao que parece, no celofane poroso
do nevoeiro, que fez o rio subir
as escadinhas de alfama, até lisboa ser
uma gelatina informe e pouco clara
de ruelas e becos desfocados
e vapores abstractos em suspensão
naval. Aproveitam então as andorinhas
para, com o peso milimétrico da última
palhinha, fazer desabar mais um beiral.
O que se vê do povo é a silhueta mansa
de santo antónio dos bairros novos,
na vigésima colina, a da brandoa,
sem vistas para o tejo desta vez. E duas
ou três pessoas esperando, na maravilhosa bruma
da memória, a queda doutro prédio
e o vinte e seis. Em tempo mais clemente,
vê-se o pragal.