sexta-feira, janeiro 13, 2006

Sete rios e um lago (muito urbano)

À estação de Sete Rios acaba de chegar
o comboio suburbano da linha de Sintra.
É primavera e no Jardim Zoológico
os ursos dão sinal de querer sair da hibernação.
É um facto que os dois factos dificilmente
se relacionam, excepto na tangente
cujo ponto de fuga é, um pouco mais acima,
o eixo Norte-Sul. Ao mesmo tempo,
outro comboio desliza suavemente,
no troço compreendido entre
o Aqueduto e a jaula dos leões. Também
não se relacionam, ou na medida apenas
em que, formosa e rosa,
a ponte vê passar os tubarões.
Antigamente havia quem chamasse encruzilhada
a um lugar assim, como este aqui.
Será por isso, creio, que os papagaios
nas gaiolas
aceitam de bom grado amendoins.
É também facto assente (e plenamente confirmado)
que na esplanada, debaixo das magnólias,
um passageiro lânguido e transfuga
suspira muitas vezes pelo verão
em Massamá
ou em mesmo ali,
no paraíso urbano,
entre golfinhos.
É quando vê aparecer, a espaços,
na bandeja, a cabeça degolada do revisor.