segunda-feira, fevereiro 06, 2006

O assobio

Ao fim de três dias de vigília, o anão
Macário regressou à mina, congeminando
na absoluta inutilidade dos fantasmas.
A princesa dormia e nem cadeias nem uivos
tenebrosos a acordavam. Olhando pesaroso
o veio de ouro, os trezentos mil anéis
que conteria, sacou da picareta e deu um toque
vagabundo e distraído, congeminando
na primavera exterior, no som das rosas
que se abriam, na fragrância discreta
dos pessegueiros, no sono dela, e como não veria,
nem mesmo à transparência dos lençóis,
de seda muito embora, que a cercavam,
o verão chegar enfim e as cotovias.
Liricamente, assim o anão Macário meditava.
E os fantasmas, mansamente, descansavam.
À espera do assobio com que a princesa,
desperta desta vez, os convocava.