terça-feira, março 21, 2006

Os rios ibéricos

Havia então um estripador em Toledo,
de ásperas mãos calejadas e mortais.
Nas profundas da noite, matando as horas
em obscuras soleiras, marcava o compasso
dos minutos com o selo indelével do fatal.
Fatal como passarem os morcegos e a fauna
nocturna das corujas. E o Tejo

deslizava mansamente.

A primeira mulher foi
com as águas, de Castela a Lisboa
navegando. Encontraram-na contando
coisas raras, Ofélia transtornada
e ofegante, na doca de Santos repescada.

O mar ao longe, com velas navegando.

As que se seguiram falavam da surpresa
do estuário, contando alvoraçadas
da viagem, de Castela ao Montijo,
a ver o mar.

E iam desfiando os malmequeres.

Mais aquém, em Toledo, alguém olhava
o Tejo, em escusas soleiras espiando
as silhuetas longas das mulheres.
Uma adaga rebrilhando, ao cavo som
dos sinos que choravam o enterro
do branco conde de Orgaz.

(quiçá comemorando o Dia Internacional da Pintura)