domingo, maio 14, 2006

DELIRIUM TREMENS

Os artistas precisam de álcool: a bebida
que os inspira. Na sua exalação, encontram
as nuvens de cor que os inundam da água
do espírito, onde eles mergulham para
capturar os peixes do sonho. De noite,
porém, pesam os pensamentos que
juntaram durante o dia. De um lado, o
prato das reflexões; do outro, a balança
inclina-se com as frases amargas, as
sentenças críticas, as imprecações contra
os deuses. Atiram tudo para o chão; e
pegam na garrafa, para voltar a encher o
copo. Mas a garrafa está vazia; e a sede
obriga-os a procurar outra bebida. Torneiras
fechadas, resta-lhes escreverem.

Nuno Júdice